sábado, 25 de novembro de 2006

Fugidio

Tua mente é arranjo tropicalista
Que o maestro Duprat não pensou em fazer.
Pensamentos em círculos imperfeitos
Devoram a você e ao pobre giramundo.
Um lapso de consciência autocrítica
Suscita sua dúvida mais uma vez;

Minha Hora de inventar entidades:
Atribuir culpados e dar nome aos bois
Decapitar os góis
E também os judeus.
Aproveitar a covardia reacionária,
Fazer brotar atentados da fraqueza.

Preparo meu ato de vandalismo:
Quero um cigarro.
Tragar a fumaça e com o isqueiro
Atear fogo ao mais gélido pesar,
Pôr abaixo o castelo das incertezas
E partir de uma vez do cruel Sonhar.

domingo, 19 de novembro de 2006

Domingo legal

Enquanto o mundo pega fogo
O povo está preocupado
Com quem dança melhor sobre o gelo,
Cultivando a nova tradição de neve
Na televisão do Brasil.

Sílvio Santos vem aí
E sua trupe de noivas desesperadas
Sorrindo à frente do cenário róseo
De paixão compactada de audiência, -
Lágrimas de moças escorrem nas faces,
Saliva viscosa verte pelo queixo dos namorados

As unhas desaparecem nas tardes
Dos clássicos cariocas, nervosos e cheios de charme. -
único alento no suplício dominical.
Cerveja, churrasco e cavaquinho afinado,
De olho na nova propaganda etílica do Zeca,
A nova diversão do ano
E a mesma loura gelada.

São os dias que não podem durar para sempre.
E esqueçam também a segunda-feira, por favor.

domingo, 12 de novembro de 2006

Nuvem de primavera

A seriedade cinzenta dos estudantes
Duas semanas antes do vestibular
Ocupa as horas de austero marchar
E mancha as flores exuberantes

Eu; quero meu sol de primavera,
O brilho amarelado no arvoredo
As tardes de passeios sem medo,
Casais empertigados nos bancos de outrora

Rojões para os conservadores!
A transgressão juvenil –
O gato engoliu,
Atulhou-se em implantados amores

Carro, novela, dinheiro e umbigo.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Bolsa de valores

Não somos capazes de não estranhar
As nuanças da futilidade em cada esquina,
Queimando no seio de cada corpo,
Que serve uma refeição flambada de frieza ártica, -
Apenas um petisco antes do prato final:

Um magnífico banquete de ignorância
Aos cérebros e toques,
Aos mundos fronteiriços
De arrevesado comportamento. –
A planície da bondade e concórdia.
De lá, aceitam apenas cédulas e moedas.

Pernas e olhares dispostos perpendiculares,
Atravessam as ruas deixando pegadas
De repressão egoísta em benefício ao bolso
E à autoridade burocrática do solado da porta.
Quando pais experimentam das vicissitudes da idade,
Ordenam infelizes conservadores –
Irreconhecíveis aos vinte anos,
Pensando que seria mais fácil
Com a moeda do Patinhas.

São os engenheiros de uma construção
Alicerçada em suas instabilidades.
O casamento indesejado, o filho na hora errada.
Pior: aprender os idiotismos do trabalho forçoso. –
Filho, Neto, Júnior, atirados às feras
Da hereditariedade seguimentista.

A arma que compele
É o padre que unge e abençoa
Em memória ao martírio do Cristo crucificado,
É a chinelada na mão da criança
Da família unida e tradicional,
É a vovó pedindo perdão por sessenta anos
Pelo pecado original da única vez.
O sustento da tradição não é o sustento do corpo.

As moedas tilintam nos cofres
De segredos indecifráveis,
Traduzem as famílias de desconhecidos,
Que habitam juntos o mesmo lar,
E que só conhecem dos outros,
Os rostos manchados por espinhas.

Dê-lhes um reajuste fiscal,
Penteie seus filhos, prepare o futuro empresário,
Deixe sobre sua escrivaninha notas azuis,
Garoupas e boletins escolares
Transformemos o mundo em papéis e gravatas, -
É a volta dos grandes répteis – que agora se permitem
A vestir-se e a negociar.