Numa triste casa pobre e pequena,
De uma cidade grande qualquer,
Há um feixe multicor, daqueles bem falantes,
E cheio de elétrons – apaixona os visitantes, -
Estes não o deixam arrefecer.
Luz mal guardada na sala de jantar,
Que os insetos circundam em adoração,
Por sobre a toalha colorida por arabescos
No registro preguiçoso das horas às duas, -
Marasmo da sesta latino-americana
Onde os dias mal passam no calendário de girassol,
Contando os costumes de Itaparica
Allons-nous en, mes amis! – começa a aula viajante
De língua francesa, virando à esquerda para o selvagem
Brasil tupi, bem antes dos casos do sertão,
Embarcamos na canoa dos índios, conduzida pelo timoneiro ancião.
Em Meca, anjos maometanos que não crê,
Apresentaram-lhe o idioma do cão.
Versou com as escrituras vermelhas por ingênuo amor,
Bradando os ensinamentos de Marx e as ações de Lênin!
Entre o vinho e a água aprendeu alemão com Goethe e os estudantes.
Poderia adentrar o Olimpo falando a língua dos deuses,
Mas certamente rejeitaria seu manjar demagógico
As noites ébrias com russos e russas foram substituídas
Pelas madrugadas nos porões do Capelão,
De surras aguardadas em aflição e temor
Medo de não mais poder beijar sua esposa e sua prole,
Chorosa no martírio e na abrupta felicidade,
Dias depois, pelo regresso da aurora e do pai.
Derramou sobre as camas das crianças sem sobejos
As histórias da infância de malas nas mãos pela Bahia,
Dançando o samba de roda nos terreiros,
Em companhia da mãe nos feitiços de pedras mágicas,
Abalou a crença do babalorixá ao tocá-las
Ignorando as rígidas admoestações dos frades,
Fugindo com seu pai para o lanche das emoções,
Compartilharam e fizeram as histórias seculares do Sodré
Sem saber nadar nas lágrimas vertidas pelo seu herói
Ao ver no guarda da esquina seu sobrinho desconhecido
Coincidências que só o sortilégio das luas pode sustentar
Hoje, a luz irradia a esperança cheia de têmpera.
Experiente, guia as turmas de jovens,
Aconselha e afaga a mente dos Sonhadores
Com a baianidade e simplicidade sofisticada
Jamais vista num par de olhos.
Duas horas de latido de cão bobo,
Passeios na Antigüidade e nas velhas páginas das gramáticas
Desenhando mapas dos globos da alma e da Terra.
Finda a aula, é hora da compra diária de pão francês
E a luz, mais vermelha que nunca,
Sobe a ladeira, rumo à boulangerie.
segunda-feira, 30 de outubro de 2006
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9 comentários:
Monsieur Juvenal...
=)
temos que admitir: Monsieur Juvenal é o melhor professor =D
e vc, o melhor poeta. *=
O cosmopolitismo mais belamente guardado que já vi. A melhor tarde de conversa sem café e cigarros que já tive.
Monsieur Juvenal é fascinante
"Finda a aula, é hora da compra diária de pão francês"
é verdade... está na hora de eu comprar meu pão diario ali na padaria. =)~
Juvenal é um ser poético capaz de coisas tão complexas como ser poliglota e tão simples como andar com a mão dentro da calça.
Apoio mais e mais homenagens belas como essa para trazer a luz do monsieur cheio de esperança a todos os jovens que tanto necessitam de sua orientação.
O melhor professor de todos!
Juvenal é popular demais, já rendeu 6 comentários. Quem não gosta dele só pode ser um babaca digno de ser o primeiro a ir pro paredão de fuzilamento quando fizerem a revolução!
Meus parabéns, garoto. Você tem muito talento (escute a voz da experiência).
eta, esse é o cara, , minha tese de mestrado meu trabalho de antropologia
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