segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Bolsa de valores

Não somos capazes de não estranhar
As nuanças da futilidade em cada esquina,
Queimando no seio de cada corpo,
Que serve uma refeição flambada de frieza ártica, -
Apenas um petisco antes do prato final:

Um magnífico banquete de ignorância
Aos cérebros e toques,
Aos mundos fronteiriços
De arrevesado comportamento. –
A planície da bondade e concórdia.
De lá, aceitam apenas cédulas e moedas.

Pernas e olhares dispostos perpendiculares,
Atravessam as ruas deixando pegadas
De repressão egoísta em benefício ao bolso
E à autoridade burocrática do solado da porta.
Quando pais experimentam das vicissitudes da idade,
Ordenam infelizes conservadores –
Irreconhecíveis aos vinte anos,
Pensando que seria mais fácil
Com a moeda do Patinhas.

São os engenheiros de uma construção
Alicerçada em suas instabilidades.
O casamento indesejado, o filho na hora errada.
Pior: aprender os idiotismos do trabalho forçoso. –
Filho, Neto, Júnior, atirados às feras
Da hereditariedade seguimentista.

A arma que compele
É o padre que unge e abençoa
Em memória ao martírio do Cristo crucificado,
É a chinelada na mão da criança
Da família unida e tradicional,
É a vovó pedindo perdão por sessenta anos
Pelo pecado original da única vez.
O sustento da tradição não é o sustento do corpo.

As moedas tilintam nos cofres
De segredos indecifráveis,
Traduzem as famílias de desconhecidos,
Que habitam juntos o mesmo lar,
E que só conhecem dos outros,
Os rostos manchados por espinhas.

Dê-lhes um reajuste fiscal,
Penteie seus filhos, prepare o futuro empresário,
Deixe sobre sua escrivaninha notas azuis,
Garoupas e boletins escolares
Transformemos o mundo em papéis e gravatas, -
É a volta dos grandes répteis – que agora se permitem
A vestir-se e a negociar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Mamãe, eu quero ser totalitário

Anônimo disse...

~=
vc ainda é meu drummond

Anônimo disse...

Mamãe, você já é uma totalitária

Marcelo Oliveira disse...

Gosto dessa poesia.
Vejo Tom Zé nas entrelinhas...